Quanto a ouvir bem no um-para-um (121).

No papel do Coach ou do Mentor, do negociante ou do bom conselheiro, ouvir bem se torna a prática mais produtiva no que se tem a fazer diante do interlocutor, do cliente, do coachee.

É preciso compreender mais que ouvir. Para isso devemos nos esvaziar – dentro do que nos é possível. É preciso ligar-se ao outro e quando você estiver tranquilamente fixado em seu olhar, a ligação pode estar completada. Se o olhar dele, interlocutor, ainda vacilar, isso pode incomodar a você e teremos um baita exercício de seu autocontrole.

Para ouvir com compreensão é preciso atenção maior e primeiro em você mesmo, depois no interlocutor. Assim, as suas coisas não se antecipam as coisas percebidas na comunicação dele e você consegue quase auscultar o funcionamento dos seus órgãos. Perceber os movimentos, as feições, os gestos, os tiques, o incômodo que algo dito causou nele próprio, sua reponsividade, assertividade, insegurança etc.

A leitura do que ele diz pode ser interrompida em você pelo sentido que você deu àquilo ouvido. Por isso, é preciso autoestima aguçada. Autoestima não no sentido de gostar de si, achar-se linda ou lindo, mas com significado de estimar-se – considerar-se – com frequência e razoável facilidade. Autoconsciência medida em hertz. Será preciso perceber suas próprias sensações a tempo de evitar boa parte das besteiras que sempre expressamos.

Entre você e o outro existe um campo energético, uma tensão criada pela simples presença de ambos ali. Algo que pode ser o que Mesmer chamou de raport, a física de dinâmica ou tensor, a psicanálise de ambiência transferencial, enfim, um ente novo gerado por vocês dois que os influenciará e será influenciado por vocês. Então, de uma maneira ou de outra, você estará conectado a essa energia – sinergia – e precisará de autoconsciência para considerar sua influência e, ao mesmo tempo, levar o encontro ao objetivo proposto.

Um bom exercício pode ser feito: sente-se diante de alguém, de preferência uma pessoa com quem tenha pouca intimidade. Prepare a pessoa para isso antes, claro. Olhe para seus olhos e peça para que ela faça o mesmo. Depois, peça que ela feche os olhos e você também o faz avisando-a disso. Ai, estará você no escuro seguro e conhecido seu, onde ninguém mais entra, a menos que você permita. Mesmo com a outra pessoa diante de você, a confiança de que ela não está olhando para você poderá lhe dar a tranquilidade que geralmente tem em seus momentos de solidão e introspecção. Ali, naquele seu ambiente, somente entrarão os que você permitir que entrem. Ninguém tem poder para entrar, ninguém. Procure identificar alguma sensação sua naquele estado, tente perceber o que sente e memorize o sentimento. Depois, peça para que a outra pessoa abra os olhos no mesmo momento que você também abrir os seus. Nesse instante, perceba a nova sensação em si. Note que mudam seus sentimentos com a certeza do olhar dela e com a influência da energia de sua presença. Ela e seu olhar entraram em seu ambiente outrora protegido. O que mudou em você? Por que mudou? Não precisa saber as respostas certas, mas a prática de tentar identificar essas mudanças estará te colocando familiaridade com você mesmo e facilidade na autopercepção – autocontrole.

Perceba, note, controle.

Sobre Álvaro de Carvalho Neto

Educador coorporativo desde 1996, tem graduação em Administração de Empresas e especialidades em Análise de Sistemas, Marketing, Liderança, OS&M, Gestão de Projetos, Coordenação de Grupos, Coaching e Psicodrama Sócio-educativo.

2 comentários

  1. Ótimo artigo Álvaro, gostei muito.

  2. Ótimo artigo Álvaro..
    Parabéns

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