O Coaching precisa de coaches despertos e maduros.

Texto publicado na Revista Coaching Brasil, Ed. 11, em 17/04/2014

Quando de um lado se elevam os graus de sinceridade e coragem com que um coach enxerga a si mesmo em autoconsciência, de outro lado os resultados de seus clientes vão se tornando cada vez mais assertivos e estratégicos. Ao contrário, quando o profissional se nega a compreensão de seu próprio funcionamento, alguns movimentos de sua autoafirmação disfarçada podem intoxicar as mensagens, desestabilizar processos, depreciar o desempenho do cliente e, consequentemente, desacreditar o coaching. Este último efeito se torna quase irreversível para o coachee frustrado após apresentações pernósticas: certificações de reconhecimento galáctico, endossos dos melhores do mundo etc.
Se o coach precisa de disfarces de herói é quase certo que sua vitalidade emocional está profundamente carente de reconhecimento. Um estado comum nas pessoas, mas perigoso quando se manifesta descontrolado em quem coordena um encargo de coaching. Sob tal influência sutil, as iniciativas durante o processo podem procurar atender as necessidades expressadas do coachee a partir das necessidades subjacentes do profissional. O mesmo pode acontecer, por exemplo, com professores em suas classes e com gerentes em suas equipes. Os objetivos importantes pelos quais as boas intenções das pessoas se desempenham, correm o risco de ficarem prejudicados sem que se percebam as más influências egóicas da liderança nisso.
Do outro lado da mesa, por mais consciente que esteja o coachee de que sua própria racionalidade tomou as decisões e de que os instrumentos de coaching foram suficientemente eficazes nas reflexões que teve, poderá não perceber que boa parte da sensação de estar fazendo a coisa certa vem da confiança e autoridade que ele deposita na pessoa de seu coach. Então, a integridade deste profissional precisa estar sob a permanente vigília dele mesmo.
Integridade é composta de coerência e ética. Grandezas abstratas que não se medem em fórmulas, não se enxergam a distância, não se confirmam em certificados ou testes pontuais e não se praticam em metodologias ou técnicas. Essas competências se desenvolvem nas pessoas que as buscam insistentemente a partir do autoconhecimento. E estar autoconsciente não significa estar imune às reações emotivas, mas estar atento ao significado de boa parte de suas próprias sensações. Isso se aprende virando-se o espelho retrovisor de vez em quando para seu olhar. Trocando a atenção no que está à volta para quem está no volante: o próprio coach.
Serão essas competências que garantirão a perenidade do negócio coaching. Amadurecidas no profissional coach estarão de pé após passar a tormenta. Depois que o efêmero movimento mercadológico se acalmar e, como acontece após todas as fortes ondas inovadoras, os excessos forem decantados e os engodos descobertos, ficarão críveis apenas os valores absolutos do coaching. De todo movimento midiático a respeito do Teste de Cooper na década de 70, ficou a certeza dos benefícios dos exercícios aeróbicos; da bolha da Internet estourada em 2002, ficou reforçada a ideia das startups. Os tsunamis das inovações passam, mas seus legados mais significativos impregnam a sociedade.
Dos atuais esforços varejistas do coaching, ficarão aqueles valores que forem construídos assertivamente desde agora através da conduta das pessoas que o praticam. Entretanto, o ajudador pode estar precisando de ajuda e sua experiência e idade não vão isentá-lo totalmente disso. Até nos coaches mais maduros, a tensão ou intensidade e volume do trabalho podem fazer aflorar descontroladas crianças mais interiores sem que eles se conscientizem em tempo hábil das artes que elas aprontam. Neste caso, a prática não traz a perfeição, mas nos treina por um interminável caminho no rumo dela. E para exercitar a competência da autoconsciência, outro coach pode ajudar. Quem sabe se através de desafios pessoais cujos sucessos dependam da atenção em nossas próprias reações e emoções?
Em encargos de coach para coach, mais importante que os instrumentos utilizados ou trocados, ambos se praticarão mutuamente em suas humildades – o canal mais largo de entrada dos aprendizados sobre nós mesmos. Perceberão no outro os reflexos de suas próprias virtudes e desvios. Refletirão sobre suas condutas, identificarão novas sensações, se conscientizarão com mais abrangência sobre si mesmos. Se ainda assim as origens de algumas dificuldades mais viscerais não forem reconhecidas ou alcançadas, outros profissionais como psicólogos, psicanalistas ou psiquiatras poderão ajudar.

Sobre Álvaro de Carvalho Neto

Educador coorporativo desde 1996, tem graduação em Administração de Empresas e especialidades em Análise de Sistemas, Marketing, Liderança, OS&M, Gestão de Projetos, Coordenação de Grupos, Coaching e Psicodrama Sócio-educativo.

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